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poesia

Vozes femininas e o livre imaginar

Estarão as obras literárias de autoria afrodescendente criadas em Portugal a contribuir também para desafiar a identidade europeia, na sua complexidade e diversidade? Tendo presente a «ferida aberta» que o colonialismo continua a ser, mas não se limitando ao seu tratamento, que novas relegações sociais e invisibilidades político-culturais poderão estas vozes [contribuir para mostrar] apontar na paisagem europeia?

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Temos de Falar, à conversa com Gisela Casimiro (7)

Maria Giulia Pinheiro é escritora, poeta, performer e pesquisadora feminista. Irmà Estopiña é poeta e arte-terapeuta/psicoterapeuta. Juntas organizam há alguns anos a “Ginginha Poética”, um exercício de poesia comunitária e celebratória que emprestam ao Temos de Falar.

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“A amnésia histórica é um dos mais sérios problemas de São Tomé e Princípe” – conversa com Conceição Lima.

São Tomé e Príncipe, diz Conceição Lima, vive numa tensão entre a impaciência e a paciência. Por um lado, há uma forte insatisfação com o estado de coisas: “temos uma curta esperança de vida e queremos assistir a mudança!” Por outro, quarenta e sete anos é “um lapso de história muito curto, quase insignificante no grande plano.” A solução passa por um equilíbrio entre os dois: “é preciso cultivar a paciência para remendar e semear, mas nunca permitindo que se esvaia a tão importante impaciência.” Parece que estamos perante uma identidade formada a partir e contra um trauma histórico, que teima em resistir, contra todas as probabilidades. A poetisa responde com um poema: Um pássaro ferido./ Um pássaro ainda ferido / e teimoso.

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A Caixa

A poesia, a performance e a música conversam sobre segredos clandestinos, verdades proféticas e viagens ancestrais, e tentam responder à pergunta: O que fazer depois da redescoberta de nós próprios(as)? A Caixa é sobre a libertação anterior e interior à revolução, a libertação da mente dos paradigmas coloniais encaixotados, é sobre pensar fora da caixa mesmo estando dentro dela, e sobre reconhecer as várias caixas destruídas ao longo da história.

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Danço-Congo na IX Bienal de São Tomé e Princípe

Com o seu caráter original e “foco nos movimentos e falas, nas piadas de bobos, no ritmo dos tambores”, no Danço Congo “a história como um todo, assim contada pelas pessoas mais idosas, diluiu-se e deixou de ter importância.” Todos os participantes vestem-se a rigor, com destaque para os “capacetes feitos de banças de palmeira decoradas com coloridos pedacinhos de plástico.”

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“Não há realmente diferença entre poesia e vida”, entrevista a Patrícia Lino

Se deste lado do mundo, o assunto é debatido há já algum tempo e institucionalmente desde os anos 80, o interesse pelo tema começa, decisivamente, a chegar ao lado de lá. O Kit de Sobrevivência materializa, com recurso ao exercício paródico e interdisciplinar, esse movimento. Uma mulher portuguesa escreve tão cínica quanto criticamente sobre o grande passado português cujos paradoxos e ilusões decorativas, e penso nas audiências que conheci ao longo de 2021 e 2022, são familiares para as leitoras e os leitores de muitas outras línguas e culturas.

Afinal, assim como não há mistério algum no riso, não há mistério algum na violência. As suas dinâmicas desdobram-se em vários idiomas e lugares do mapa.

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O jardim selvagem de Laura do Céu (ou de Soraia Simões de Andrade)

Hoje, de um modo geral, falta à nossa poesia o fundamental: o diálogo com a vida e com o desconhecido. Nesse género de livros, ditos meta-poéticos, o autor aparece somente como máquina de citações e especialista em pastiches literários.
Este livro é diferente. Os poemas de Laura do Céu, em Em/Sem Terra, estão repletos de pessoas e de estarrecimentos vários ante as coisas comezinhas e menos comezinhas da vida. É um livro para os que, como a autora escreve em “Poetagem”: “Amam Gina Lollobrigida e destroem Deleuze”.

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Memórias Aparições Arritmias, de Yara Nakahanda Monteiro (Companhia das Letras, 2021)

É difícil ler ‘Memórias Aparições Arritmias’ sem pensar nos estudos da memória. A memória é uma presença constante neste livro de Yara Nakahanda Monteiro. As suas memórias e as memórias da sua família que lhe foram chegando, ao longo da vida. A poeta faz uso daquilo a que Jan e Aleida Assmann chamaram de “memória comunicativa” (kommunikatives Gedächtnis), que se constitui na interação informal do quotidiano: pelas histórias, imagens e emoções que se transmitem nas famílias e entre pessoas com contacto direto e que abarca as vivências das três a quatro gerações vivas. Essa familiaridade e esse mundo pessoal, que é tanto afetivo como doloroso, pautam grande parte das memórias que pululam de poema em poema, recordando muitas vezes um tempo e um espaço a que a poeta, ou os seus eus líricos, só de forma indireta poderiam ter acesso.

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No centenário do nascimento de Francisco José Tenreiro (1921-1963): mediações e perspetivas

Através desse cliché usado (ironicamente) por Pessoa, FJT levantava uma outra questão para a qual ainda não temos grandes respostas: como é possível que “África” seja uma presença tão negativa, ou aparentemente indelével, na obra do nosso maior modernista? Ou, não estaremos perante um problema da crítica literária oficial, que durante anos procedeu a um “branqueamento” da obra de Almada Negreiros? Que essa miopia ou parcialidade crítica existiu prova-o o estimulante ensaio de Pedro Serra, “Usos do ‘Primitivo’ Africano na cena de Orpheu. Uma incorporação de Fernando Pessoa”, cujo título ilustra uma abordagem quase inédita da obra pessoana. Movendo-nos noutras direções, e inspirado por este ensaio, talvez seja possível proceder a outras revisitações quer da obra de Pessoa quer da de outros poetas maiores da literatura portuguesa no sentido de aí rastrear a presença africana e estudar o seu papel (poético-linguístico, por ex.) no contexto das respetivas obras. Ainda não se estudou em profundidade a influência de “África” (Guiné e Cabo Verde) e de outros lugares multiculturais e poliglotas (como Londres) na obra de Maria Velho da Costa. Como ainda não se estudou suficientemente a “coisa africana” na obra de Herberto Helder, a “frase ocre africana”.

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